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TEXTO NARRATIVO, ou narração, é um tipo de texto no qual se desenvolvem as ações de personagens num determinado tempo e espaço.

Geralmente, ele é escrito em prosa e nele são narrados (contados) alguns fatos e acontecimentos. Mas também é possível narrar em outros formatos, como em versos, em quadrinhos, etc! Por exemplo, a famosa obra Odisséia é uma narrativa em versos; a música Faroeste Caboclo (Legião Urbana) também é uma narrativa em verso.

Alguns exemplos de textos narrativos são: romance, novela, conto, crônica e a fábula.

Estrutura da narração

O texto narrativo apresenta a seguinte estrutura que o diferencia dos demais tipos textuais:

Apresentação: esta é a introdução, a parte inicial em que o autor do texto apresenta os personagens, o local e o tempo em que se desenvolverá a trama.

Desenvolvimento: nesta etapa, grande parte da história é desenvolvida com foco nas ações dos personagens.

Clímax: essa fase faz parte do desenvolvimento da história, o clímax significa o momento mais emocionante da narrativa.

Desfecho: é a conclusão da história, ele é determinado pela parte final da narrativa, em que, a partir dos acontecimentos, os conflitos vão sendo resolvidos.

Vamos conhecer na prática como se divide uma narração!

Temos, abaixo, uma crônica do escritor brasileiro Fernando Sabino. Vamos ler e observar como se organiza sua estrutura!

O Homem Nu

Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

(Atenção, caro aluno! Nestes três primeiros parágrafos, tivemos a apresentação da narrativa: apareceram os personagens principais – marido e esposa -, anunciou-se a ação – fuga do cobrador – , apresentou-se o espaço – casa –  e o tempo – presente -. O que teremos a seguir será o desenvolvimento, a ação começará a se desenrolar, ganhar conteúdo)

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares… Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

— Maria, por favor! Sou eu!

Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo… Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.

Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido… Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!

— Isso é que não — repetiu, furioso.

(Agora, caro aluno, observe que a situação do nosso personagem começa a ficar mais complicada! Chegamos ao clímax da narrativa!)

Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: “Emergência: parar”. Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.

— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.

Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu…

A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

— Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

— Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

— É um tarado!

— Olha, que horror!

— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!

(E finalmente chegamos ao desfecho da nossa narrativa! O que será que vai acontecer com nosso personagem?)

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão.

Foco narrativo

Agora uma característica interessante, que pode mudar todo o rumo da sua narrativa, dando-lhe um “tempero”! O  FOCO NARRATIVO! Você sabia que uma história pode ser narrada a partir de diferentes perspectivas, de diferentes pontos de vista?

O narrador, a voz que narra história, pode fazer parte da trama, expondo, sua visão particular dos fatos; mas pode também pode não participar nada da história, ser apenas um observador dos acontecimentos, ou mesmo detentor de um conhecimento prévio acerca do enredo.

Essas diferentes maneiras de narrar-se uma história chamamos de foco narrativo.

Assim, temos os seguintes tipos de narrador:

Narrador personagem: É um narrador em primeira pessoa, portanto, é um personagem da história. Ele não só relata os fatos, como também participa dos acontecimentos narrados.

Exemplo:

Estava andando pela rua quando de repente tropecei em um pacote embrulhado em jornais. Peguei-o vagarosamente, abri-o e vi, surpreso, que lá havia uma grade quantia em dinheiro.

Narrador observador: É um narrador em terceira pessoa, narrando apenas o que vê, o que observa, mas não participa da história e nem tem conhecimento total dos fatos e personagens.

“O sol estava começando a abaixar e a luz da tarde estava sobre a paisagem quando desceram a colina. Até agora não tinham encontrado vivalma na estrada. […]. Já estavam andando havia uma hora ou mais quando Sam parou por um momento, como se escutasse algo. Estavam agora em terreno plano, e a estrada, depois de muitas curvas, estendia-se em linha reta através de um capinzal salpicado de árvores altas, […].”

Trecho do romance O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien, tradução de Lenita Maria Rímoli Esteves.

Narrador onisciente: É um narrador em terceira pessoa e tem total conhecimento dos fatos e dos personagens. Este narrador conhece o passado, o presente e o futuro dos personagens, bem como seus pensamentos e sentimentos.

“Clarissa fica ali parada com uma sensação de culpa, com as flores no braço, torcendo para que a estrela apareça de novo, constrangida com seu interesse. Ela não é dada a bajular celebridades, não mais do que a maioria das pessoas, mas não consegue evitar a atração exercida pela aura da fama — mais do que fama, imortalidade mesmo — […]. Clarissa se deixa ficar parada ali, tola como qualquer fã, por mais alguns minutos, na esperança de ver a estrela surgir. Sim, só mais alguns minutos, antes que a humilhação se torne simplesmente demais. […]. Depois de alguns minutos (quase dez, embora deteste admiti-lo), parte de supetão, indignada, […].”

Trecho do romance As horas, de Michael Cunningham, tradução de Beth Vieira.

Narração 1

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