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Português 9º ano

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  2. Estudo e compreensão textual II: porque navegar é preciso
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  4. Sintaxe: um estudo prático de gramática
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  5. A Língua Portuguesa na prática: desdobrando a gramática
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Aula 4: Leitura de contos, crônicas e poesia contemporâneos de culturas africanas, indígenas e outras 1

Contos africanos

Os contos africanos são narrativas curtas e com linguagem simples, que transmitem ensinamentos e memórias da cultura de vários povos da África.

Transmitidos oralmente ao longo das gerações, a autoria de muitos deles é desconhecida.

A título de exemplo, leremos o conto A gazela e o caracol:

A gazela e o caracol

A gazela encontrou o caracol e zombou porque ele se arrastava e não sabia correr. Aborrecido, o caracol chamou a gazela para ir visitá-lo no domingo, quando ele iria provar que sabia correr.

O caracol, então, preparou papéis e distribui entre os amigos caracóis, instruindo como eles deveriam se comportar quando a gazela chegasse.

Quando a gazela chegou, os caracóis haviam se espalhado e estavam escondidos ao longo do caminho. A gazela disse: “Então, caracol, agora vamos fazer uma corrida.”. A gazela começou a correr e o caracol se escondeu nos arbustos.

A gazela corria, corria, sem olhar para trás. Apenas chamava pelo caracol e ouvia “Eu sou o caracol”, que eram os seus amigos que diziam.

Exausta, a gazela desistiu de correr e jogou-se no chão, pensando que havia, assim, perdido a corrida.

Resumo:

O conto narra como, usando a sua esperteza, o caracol fez a gazela acreditar que ele era capaz de correr e a fez desistir da corrida após ter ficado exausta.

O que este conto ensina?

A respeitar as diferenças e nunca zombar das outras pessoas.

Crônica

As crônicas são textos curtos que têm o potencial de prender a atenção dos leitores.

Elas geralmente trazem situações do cotidiano ou fatos históricos de uma forma direta e, algumas vezes, bem humorada.

Insônia infeliz e feliz – Clarice Lispector

De repente os olhos bem abertos. E a escuridão toda escura. Deve ser noite alta. Acendo a luz da cabeceira e para o meu desespero são duas horas da noite. E a cabeça clara e lúcida. Ainda arranjarei alguém igual a quem eu possa telefonar às duas da noite e que não me maldiga. Quem? Quem sofre de insônia? E as horas não passam. Saio da cama, tomo café. E ainda por cima com um desses horríveis substitutos do açúcar porque Dr. José Carlos Cabral de Almeida, dietista, acha que preciso perder os quatro quilos que aumentei com a superalimentação depois do incêndio. E o que se passa na luz acesa da sala? Pensa-se uma escuridão clara. Não, não se pensa. Sente-se. Sente-se uma coisa que só tem um nome: solidão. Ler? Jamais. Escrever? Jamais. Passa-se um tempo, olha-se o relógio, quem sabe são cinco horas. Nem quatro chegaram. Quem estará acordado agora? E nem posso pedir que me telefonem no meio da noite pois posso estar dormindo e não perdoar. Tomar uma pílula para dormir? Mas e o vício que nos espreita? Ninguém me perdoaria o vício. Então fico sentada na sala, sentindo. Sentindo o quê? O nada. E o telefone à mão.

Mas quantas vezes a insônia é um dom. De repente acordar no meio da noite e ter essa coisa rara: solidão. Quase nenhum ruído. Só o das ondas do mar batendo na praia. E tomo café com gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me interrompe o nada. É um nada a um tempo vazio e rico. E o telefone mudo, sem aquele toque súbito que sobressalta. Depois vai amanhecendo. As nuvens se clareando sob um sol às vezes pálido como uma lua, às vezes de fogo puro. Vou ao terraço e sou talvez a primeira do dia a ver a espuma branca do mar. O mar é meu, o sol é meu, a terra é minha. E sinto-me feliz por nada, por tudo. Até que, como o sol subindo, a casa vai acordando e há o reencontro com meus filhos sonolentos.

Clarice Lispector teve muitas crônicas publicadas no Jornal do Brasil nos anos 60 e 70. Boa parte desses textos está no livro A descoberta do mundo, de 1984.

Um deles é essa pequena crônica que discorre sobre a insônia. Clarice consegue trazer os dois lados de uma mesma situação, em que às vezes ela se sente solitária, desamparada e angustiada; outras vezes consegue acessar toda a potência e liberdade do isolamento, vivenciando o que se costuma chamar de “solitude“.

Poesia indígena

Márcia Wayna Kambeba é indígena, do povo Omágua/Kambeba no Alto Solimões (AM). Nasceu na aldeia Belém Solimões, do povo Tikuna. Mora hoje em Belém /PA e é mestra em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Poeta, cantora, compositora, fotógrafa e ativista, aborda em seus trabalhos a identidade dos povos indígenas, a questão da territorialidade e do espaço das mulheres nas aldeias. É autora do livro  “Ay Kakyri Tama – Eu Moro na Cidade”, publicado pela editora Pólen, em 2018.

Ser indígena – Ser omágua

Sou filha da selva, minha fala é Tupi.

Trago em meu peito,

as dores e as alegrias do povo Kambeba

e na alma, a força de reafirmar a

nossa identidade

que há tempo fico esquecida,

diluída na história

Mas hoje, revivo e resgato a chama

ancestral de nossa memória.

Sou Kambeba e existo sim:

No toque de todos os tambores,

na força de todos os arcos,

no sangue derramado que ainda colore

essa terra que é nossa.

Nossa dança guerreira tem começo,

mas não tem fim!

Foi a partir de uma gota d’água

que o sopro da vida

gerou o povo Omágua.

E na dança dos tempos

pajés e curacas

mantêm a palavra

dos espíritos da mata,

refúgio e morada

do povo cabeça-chata.

Que o nosso canto ecoe pelos ares

como um grito de clamor a Tupã,

em ritos sagrados,

em templos erguidos,

em todas as manhãs!

Algumas pinceladas acerca da Literatura Modernista no Brasil…

A primeira geração modernista ou primeira fase do modernismo no Brasil é chamada de “fase heroica” e se estende de 1922 até 1930.

Lembre-se que o modernismo foi um movimento artístico, cultural, político e social bem amplo.

No Brasil, ele foi dividido em três fases, onde cada uma apresentava suas singularidades segundo o contexto histórico inserido.

Contexto histórico da primeira fase modernista

O modernismo foi um movimento artístico e literário que surge em muitos países no final do século XX.

Ele nasce no período denominado entre guerras, visto que a Primeira Guerra Mundial ocorreu de 1914 a 1918 e a segunda de 1939 a 1945.

No Brasil, o período vigente é a primeira fase da República, chamado de República Velha (1889-1930). Esse contexto esteve marcada pelas oligarquias cafeeiras (São Paulo) e as oligarquias do leite (Minas Gerais).

Nesse momento, as oligarquias dominavam a cena política se alternado no poder e impedindo a eleição de indivíduos de outros estados.

Ademais, a queda da bolsa de Nova York, em 1929, resultou numa grande crise mundial refletida nas sociedades de diversos países.

Esse evento foi responsável pelo início da Segunda Guerra Mundial e os governos totalitários que surgiram na Europa: nazismo, fascismo, franquismo e salazarismo.

Características da primeira geração modernista

  • Nacionalismo crítico e ufanista;
  • Valorização do cotidiano;
  • Resgate das raízes culturais brasileiras;
  • Críticas à realidade brasileira;
  • Renovação da linguagem;
  • Oposição ao parnasianismo e ao academicismo;
  • Experimentações estéticas;
  • Renovações artísticas;
  • Ironia, sarcasmo e irreverência;
  • Caráter anárquico e destruidor;
  • Uso de versos livres e brancos.

Principais autores e obras

Além do “Grupo dos Cinco” (Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti) outros artistas se destacaram nessa fase:

  • Manuel Bandeira (1886-1968): escritor, professor, crítico de arte e historiador brasileiro. De sua obra poética destacam-se: A Cinza das Horas (1917), Libertinagem (1930) e a Lira dos Cinquent’anos (1940).
  • Graça Aranha (1868-1931): escritor e diplomata brasileiro, sua obra de maior destaque é “Canaã” (1902).
  • Victor Brecheret (1894-1955): escultor ítalo-brasileiro. O “Monumento às Bandeiras” (1953), na cidade de São Paulo é, sem dúvida, sua obra mais importante.
  • Plínio Salgado (1895-1975): escritor, político e jornalista brasileiro e fundador do movimento nacionalista radical denominada “Ação Integralista Brasileira (1932), sua obra mais emblemática do período é “O Estrangeiro”, publicada em 1926.

Segunda fase modernista no Brasil (1930-1945) – Esse momento de amadurecimento da literatura brasileira é caracterizado por temáticas nacionalistas, regionalistas e de caráter social, com predomínio de uma literatura mais crítica e revolucionária. Além da prosa de ficção, a poesia brasileira se consolida, o que significa o maior êxito para os modernistas.

Terceira fase modernista no Brasil (1945-1960) – Além da poesia, há uma diversidade grande na prosa com a prosa urbana, intimista e regionalista.

Confira a seguir um trecho do poema de Manuel Bandeira que representa a posição dos modernistas na primeira fase:

Poética

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o

cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas

(…)

Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbados

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Confira abaixo um dos poemas mais emblemáticos de Carlos Drummond de Andrade, publicado na revista de Antropofagia (1928), e que causou um grande escândalo na época:

“No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra.”

Veja abaixo um trecho da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, que retrata a vida de uma família de retirantes no sertão brasileiro:

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.

Aula 4: Leitura de contos, crônicas e poesia contemporâneos de culturas africanas, indígenas e outras 2

Retirantes (1944), de Cândido Portinari

(Cândido Portinari foi um importante artista plástico 

do movimento modernista. Pintor, gravurista e 

ilustrador, em suas obras ele explora diversos 

temas de caráter social. Os retirantes é uma de 

suas telas mais consagradas.)

Ótimas leituras e bons estudos!!

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