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Língua Portuguesa – 8º ano – Aula I: Pontos de vista do narrador

Aula I: Ponto de vista do narrador. 1

Foco Narrativo

O Foco Narrativo é um elemento primordial dos textos narrativos uma vez que determina otipo de narrador de uma narração.

Em outras palavras, o foco narrativo, representa a “voz do texto”, sendo classificados basicamente em três tipos:

  • Narrador Personagem
  • Narrador Observador
  • Narrador Onisciente

Tipos de Narrador

Importante lembrar que o foco narrativo é determinado conforme a perspectiva empregada pelo autor para contar determinada história:

Narrador Personagem

Esse tipo de narrador é um dos personagens da história (protagonista ou coadjuvante). Ele participa dela. Nesse caso, a história é narrada em 1ª pessoa do singular ou do plural (eu, nós).

Exemplo de narrador personagem

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.” (Dom Casmurro, Machado de Assis)

Narrador Observador

Esse tipo de foco narrativo apresenta um texto narrado em 3ª pessoa (ele, eles). É determinado por um narrador que conhece a história e por isso, recebe o nome de “observador”.

Nesse caso, o narrador não participa da história e está fora dos fatos, ou seja, ele não é um personagem.

Exemplo de narrador observador

Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém, deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião acompanhavam, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez que mana Piedade tinha de morrer, foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha… – bonita canoa! – Antes assim! – Como obedece bem aos remos do homem!

– O certo é que estão no céu!” (Quincas Borba, Machado de Assis)

Narrador Onisciente

Aqui, devemos atentar ao conceito da palavra onisciente, a qual significa “aquele que sabe de tudo”. Dito isso, como foco narrativo, o narrador onisciente é aquele que conhece toda a história.

Também possui conhecimentos sobre todos os personagens e seus pensamentos, sentimentos, passado, presente e futuro. Pode ser narrada tanto em 1ª pessoa (quando apresenta pensamentos dos personagens) como em 3ª pessoa.

Exemplo de narrador onisciente

Um segundo depois, muito suave ainda, o pensamento ficou levemente mais intenso, quase tentador: não dê, elas são suas. Laura espantou-se um pouco: porque as coisas nunca eram dela.

Mas estas rosas eram. Rosadas, pequenas, perfeitas: eram. Olhou-as com incredulidade: eram lindas e eram suas. Se conseguisse pensar mais adiante, pensaria: suas como nada até agora tinha sido.” (A Imitação da Rosa, Clarice Lispector)

O narrador onisciente (onipresente) também pode ser classificado em três tipos. São eles:

Narrador Onisciente Intruso

O narrador onisciente intruso recebe esse nome pois ao mesmo tempo que narra a história, critica os personagens e insere juízos de valor sobre algumas ações.

Assim, ele é livre para julgar e se posicionar sobre os fatos da trama e, portanto, apresenta sua opinião.

Exemplo:

Mas já são muitas idéias, — são idéias demais; em todo caso são idéias de cachorro, poeira de idéias, — menos ainda que poeira, explicará o leitor. Mas a verdade é que este olho que se abre de quando em quando para fixar o espaço, tão expressivamente, parece traduzir alguma coisa, que brilha lá dentro, lá muito ao fundo de outra coisa que não sei como diga, para exprimir uma parte canina, que não é a cauda nem as orelhas. Pobre língua humana!

Afinal adormece. Então as imagens da vida brincam nele, em sonho, vagas, recentes, farrapo daqui remendo dali. Quando acorda, esqueceu o mal; tem em si uma expressão, que não digo seja melancolia, para não agravar o leitor. Diz-se de uma paisagem que é melancólica, mas não se diz igual coisa de um cão. A razão não pode ser outra senão que a melancolia da paisagem está em nós mesmos, enquanto que atribuí-la ao cão é deixá-la fora de nós. Seja o que for, é alguma coisa que não a alegria de há pouco; mas venha um assobio do cozinheiro, ou um gesto do senhor, e lá vai tudo embora, os olhos brilham, o prazer arregaça-lhe o focinho, e as pernas voam que parecem asas.” (Quincas Borba, Machado de Assis)

Narrador Onisciente Neutro

O nome já indica que, diferente do intruso, esse narrador é neutro e, portanto, não insere observações sobre a trama.

Aqui, ele se ocupa somente das descrições dos personagens e da narração da história. Sendo assim, seu relato é imparcial e não influencia o leitor.

Exemplo:

Depois de casado viveu dois ou três anos da fortuna da mulher, comendo bem, levantando-se tarde, fumando em grandes cachimbos de porcelana, só voltando para casa à noite, depois do espectáculo, e frequentando os cafés. O sogro morreu e deixou pouca coisa; ele indignou-se com isso, montou uma fábrica, perdeu nela algum dinheiro e retirou-se para o campo, onde pretendeu desforrar-se. Mas, como não entendia mais de agricultura do que de chitas, e porque montava os cavalos em vez de os pôr a trabalhar, bebia sidra às garrafas em vez de a vender em barris, comia as melhores aves da capoeira e engraxava as botas de caçar com o toucinho dos porcos, não tardou a aperceber-se de que mais valia abandonar toda a especulação.” (Madame Bovary, Gustave Flaubert)

Narrador Onisciente Múltiplo

Esse narrador possui opiniões e visões diversas sobre os fatos. Ele influencia o leitor para que este tome alguma posição. Trata-se de um narrador seletivo onde prevalece o discurso indireto livre.

Exemplo:

Realmente para eles era bem pequeno, mas afirmavam que era grande – e marchavam, meio confiados, meio inquietos. Olharam os meninos, que olhavam os montes distantes, onde havia seres misteriosos. Em que estariam pensando? zumbiu Sinha Vitória.

Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas Sinha Vitória renovou a pergunta – e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.” (Vidas Secas, Graciliano Ramos)

Aula I: Ponto de vista do narrador. 2

Bons estudos e até a próxima aula, pessoal!!

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