As contínuas invasões dos povos germânicos levaram à queda e à fragmentação do Império Romano do Ocidente, em 476. Com a dissolução do império, diversos povos germânicos dominaram diferentes regiões da Europa.
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A vida na Europa Ocidental transformou-se bastante no período, acontecendo uma mescla entre as características que foram mantidas do Império Romano e as trazidas pelos povos germânicos. As cidades, por exemplo, que eram muito importantes no Império, perderam força, ocorrendo uma grande ruralização da economia.
Por outro lado, a religião cristã dos romanos foi adotada por boa parte dos germanos. O latim preservou-se principalmente na linguagem escrita, e as línguas germânicas, que continuaram a ser faladas, deram origem às línguas inglesa, alemã e neolatinas (francês, espanhol, italiano e português, por exemplo).
Ocorreram mudanças também na organização política. Os romanos viviam em um império centralizado e hierarquizado, já os germanos se organizavam em tribos que estavam em processo de centralização. Esse processo foi acentuado pelas invasões, e o resultado é que por volta do século VI, já haviam se organizado novos reinos nos territórios ocupados. A maioria desses reinos germânicos, contudo, não durou muito. Apenas os francos conseguiram se estruturar de forma duradoura.
O Reino Franco teve duas dinastias, os Merovíngios (séculos V a VIII) e os Carolíngios (séculos VIII e IX).
Merovíngios: A organização política dos francos em um reino teve início em meados do século V, com a unificação de suas diversas tribos. Clóvis é considerado um dos unificadores dos francos, tendo reinado entre 482 e 511. Nesse período, promoveu a expansão dos domínios do Reino Franco e converteu-se ao catolicismo, fazendo de seu reino um forte aliado da Igreja Católica.
Clóvis teve vários sucessores. A partir de 639, a dinastia entrou em crise e o trono passou a ser ocupado por um alto funcionário da corte – o prefeito do palácio. Um desses prefeitos do palácio foi Carlos Martel, que governou de 714 a 741 e conquistou prestígio e poder, entre outros motivos, por ter comandado o exército cristão que deteve o avanço dos muçulmanos sobre a Europa, na Batalha de Poitiers (732).
Carolíngios: Após a morte de Carlos Martel, seus poderes políticos foram herdados por seu filho, Pepino, o Breve. Em 751, ele destronou o último rei merovíngio e fundou a dinastia carolíngia, termo derivado de Carlos Magno, filho de Pepino e seu sucessor.
Pepino foi reconhecido pelo papa como rei dos francos. Em troca, lutou contra os lombardos, povo germânico que ameaçava o poder da Igreja Católica. Vitorioso, Pepino doou ao papa as terras que conquistou no reino da Itália. Formou-se, então, o Patrimônio de São Pedro, que se tornou o Estado da Igreja Católica. Após a morte de Pepino, seu filho Carlos Magno o sucedeu no trono, governando os francos de 768 a 814.
Os francos comandados por Carlos Magno submeteram diversos povos germânicos e conquistaram um vasto território, constituindo assim o Império Carolíngio. Com isso, Carlos Magno adquiriu prestígio e poder no mundo cristão, chegando a receber do papa Leão III o título do imperador do Novo Império Romano do Ocidente, no ano de 800. Pretendia-se reviver a antiga unidade do mundo ocidental, agora so o comando de um imperador cristão. Além disso, a Igreja desejava a proteção de um soberano poderoso e cristão, que possibilitasse a expansão do cristianismo.
Para administrar o vasto Império, Carlos Magno estabeleceu as capitulares, uma série de normas escritas que funcionavam como leis. Essas leis reuniam os usos e costumes do Império. Além disso, a administração contava com inúmeros funcionários e nobres, como os marqueses, que eram responsáveis pelas marcas, ou seja, as os território de fronteiras do império. Esses homens tinham a função de convocar e organizaras tropas, cobrar tributos e zelar pela manutenção de estradas e pontes, etc.
O período de Carlos Magno foi também da chamada renascença carolíngia, quando o imperador estimulou a abertura de escolas e mosteiros, a tradução e a cópia de manuscritos antigos e protegeu artistas. Como resultado, o século IX foi de grande vigor nas áreas de letras, artes e educação. O período foi responsável também pela preservação e transmissão da cultura da Antiguidade clássica. Grande parte do conhecimento que temos hoje sobre a literatura greco-romana deve-se ao trabalho de coleta e cópia desenvolvido pelos escribas da época.
Depois da morte de Carlos Magno, em 814, seu filho Luis I, o Piedoso, assumiu o poder. Apesar de uma série de problemas políticos, como a excessiva influência do clero sobre o rei, o Império ainda se manteve unido. Com a morte de Luis I em 840, porém, seus três filhos, Carlos, Luís e Lotário, passaram a disputar o poder, travando um desgastante conflito interno. Foi só pelo Tratado de Verdun, assinado em 843, que a paz foi restabelecida e os três dividiram entre si o território carolíngio.
Sacro Império Romano Germânico:
Do processo de divisão do Império Carolíngio formaram-se dois reinos: um que corresponde à atual França e o outro à atual Alemanha. Na região da atual Alemanha o último rei carolíngio, Luís, morreu em 911. A partir de então, os duques germânicos passaram a escolher entre eles o novo rei. Um dos eleitos por esse processo foi Oto I, o Grande, coroado em 936. Em 955, ele derrotou os húngaros, que ameaçavam o leste europeu, e mais tarde, em 961, dominou os lombardos no norte da Itália e dirigiu-se para Roma a pedido do papa, que lhe pedia proteção contra os inimigos da Igreja. Em 962, foi coroado pelo papa com o título de imperador do Sacro Império Romano Germânico, um novo império, espécie de sucessor do Império Carolíngio. Torou-se o mais extenso Estado europeu e, embora tenha sofrido transformações ao longo do empo, sobreviveu por mais de oito séculos, até 1806.
O papel da Igreja:
A Igreja católica, que se fortalecia desde o final do Império Romano, passou a exercer ainda mais influência a partir da conversão dos francos ao cristianismo. No contexto do feudalismo e do poder político fragmentado, a Igreja foi responsável por certa unidade cultural das diferentes sociedades medievais.
Essa unidade se deu pela religião (a fé cristã), pelos valores cristãos e pelo idioma (língua latina, falada pelos representantes da Igreja e letrados). A Igreja foi a principal articuladora entre os elementos romanos e germânicos.
Além da autoridade espiritual, muitos sacerdotes da Igreja tinham poder temporal, decorrente da posse de bens materiais. Eles haviam enriquecido à custa de doação feitas pelos fiéis, que acreditavam obter, com isso, possíveis recompensas no céu. Estima-se que as diversas congregações religiosas católicas chegaram a controlar um terço das terras cultiváveis da Europa Ocidental, num tempo em que a terra representava uma das principais bases da riqueza.
Império Bizantino
Enquanto o Império Romano do Ocidente era invadido pelo povos germânicos e se desintegrava em diferentes reinos, a porção Oriental do Império, com sede em Constantinopla, teve mais sucesso em se defender, No século V, no governo do imperador Justiniano, o Império Bizantino foi mais bem estruturado e se expandiu. O imperador também foi responsável por travar várias guerras para reconquistar territórios que já haviam pertencido ao Império Romano do Ocidente, com o objetivo de restaurar o velho Império Romano em toda sua extensão.
Havia no Império Bizantino grande número de escravos, principalmente prisioneiros de guerra. A população pobre recebia alimentos gratuitamente e se divertia assistindo às corridas de cavalos no hipódromo, que eram promovidas com intuito de controlar os descontentes. Os trabalhadores livres eram mal remunerados, e a moradia tinha preços elevados. Isso levou a uma realidade onde muitas pessoas vivam desabrigadas nas ruas de Constantinopla.
Devido à insatisfação popular contra a opressão dos governantes e os elevados tributos impostos à população para sustentar gastos militares e demais despesas do império, aconteceram casos como a revolta de Nika[1], em 523, quando as tensões sociais extravasaram em uma corrida de cavalos e se transformaram em uma rebelião contra o imperador. O movimento foi reprimido, resultando em cerca de 35 mil mortes.
Durante o governo de Justiniano, se formalizou também o âmbito jurídico: os juristas bizantinos modificaram aspectos do antigo direito romano, adaptando-o às necessidades de uma sociedade cristã. Isso deu origem ao Corpus juriscivilis, uma espécie de constituição da época, contendo leis, decretos, normas e códigos, entre eles o Código Justiniano. Essa obra foi base de legislação de muitos países ocidentais, como França, Alemanha, Portugal e Brasil.
CÓDIGO DE JUSTINIANO:
Ninguém é forçado a defender uma causa contra a própria vontade.
Ninguém sofrerá penalidade pelo que pensa.
Ninguém pode ser retirado à força de sua própria casa.
Nada que não se permita ao acusado deve ser permitido ao acusador.
O encargo da prova fica com aquele que afirma e não com o que nega.
Um pai não pode ser testemunha competente contra um filho, nem um filho contra o pai.
A gravidade de uma ofensa passada não aumenta a do fato exposto.
Na aplicação de penalidades, deve ser levada em conta a idade e a inexperiência da parte culpada.
A religião cristã foi um importante elemento de construção de unidade durante o período de Justiniano e seus sucessores. Nesse contexto, os imperadores se apresentavam como os principais representantes de Deus na Terra, cabendo-lhes proteger a Igreja e dirigir o Estado. Como representantes de Deus, que era o centro do universo, e governando em seu nome, os imperadores eram o centro da política e da religião. A união entre a Igreja e o Estado, porém, não foi pacífica. Houve uma série de conflitos entre os imperadores bizantinos e os papas, o que levou ao Grande Cisma do Oriente, em 1054. A Igreja, assim, se dividiu em duas: a Igreja Católica do Oriente, conhecida como Igreja Ortodoxa, com sede em Constantinopla e chefiada pelo patriarca da cidade; e a Igreja Católica do Ocidente, conhecida como Igreja Católica Apostólica Romana, com sede em Roma e comandada pelo papa.
Na economia, o comércio era uma das mais lucrativas atividades do Império Bizantino, muito por conta da privilegiada localização de Constantinopla na rota entre Ásia e Europa. Alguns dos principais produtos comercializados eram perfumes finos, tecidos de seda, porcelanas e peças de vidro – todos produtos de luxo, vindos da Ásia e que era consumidos por um alto custo pela parcela rica europeia.
Graças à atividade comercial, o Império Bizantino contava com uma movimentada vida urbana. A capital, Constantinopla, chegou a ter 1 milhão de habitantes. Outras cidades como Tessalônica, Nicéia, Edessa e Tarso também eram grandes centros urbanos. Nessas cidades viviam grandes comerciantes, donos de oficinas manufatureiras, membros do alto clero e funcionários do governo, todo vivendo vidas luxuosas. Além da elite, havia também outros grupos vivendo nas cidades, como artesãos, funcionários de médio e baixo escalão do governo e pequenos comerciantes. Os trabalhadores pobres, porém, maioria da população do Império, vivia majoritariamente no campo.
A manufatura e o comércio eram controlados pelo Estado, que supervisionava a qualidade e a quantidade da produção, com intuito de controlar os preções e o nível de abastecimento das cidades. A produção privada de artesanato estava nas mãos das corporações de ofício, formadas por oficinas de artesanato de um mesmo ramo, como carpintaria, tecelagem e sapataria. O próprio Estado bizantino era dono dos negócios de pesca, metalurgia, armamento e tecelagem. A agricultura, atividade fundamental da economia, era realizada em grandes propriedades agrárias, os latifúndios, que pertenciam principalmente aos mosteiros ou à nobreza fundiária formada por militares que haviam recebido terras como recompensa por serviços prestados ao império. Quase todo o trabalho era feito por servos, que dependiam da terra para viver.
No âmbito cultural, o Império Bizantino foi conhecido pela mescla entre elementos ocidentais e orientais, muito devido à variedade de povos que o constituía. Conviviam então o idioma grego, a religião cristã, o direito romano, o gosto pelo requinte oriental, a arquitetura de inspiração persa, etc.
O cristianismo era a religião oficial e obrigatória, exercendo influência sobre diversos setores da sociedade: fundamentava o poder do império, absorvia boa parte dos recursos econômicos e procurava estar presente no cotidiano das pessoas, do nascimento à morte.
Nas artes, a arquitetura foi um dos maiores destaques no Império Bizantino, a exemplo da Igreja de Santa Sofia, em cuja construção trabalharam cerca de 10 mil pessoas no período de cinco anos. O projeto arquitetônico da basílica, com cúpula, serviu de modelo para igrejas no ocidente e no oriente. O mosaico, composição artística feita de inúmeros pedaços de pedra e vidro coloridos sobre um vidro claro, também foi bastante significativo no período bizantino. Os mosaicos geralmente representavam figuras religiosas ou de grande influência política, ou ainda a estilização de animais e plantas. A escultura servia também aos ideais religiosos e compreendia peças de grande valor, produzidas com ouro, marfim e vidro.
Constantes ataques externos enfraqueceram o Império ao longo do tempo. Muitos dos territórios conquistados no século VI foram perdidos, sendo recuperado somente nos séculos X e XI, quando o império conseguiu se reorganizar e inaugurar mais quatro séculos de estabilidade. Porém, no século XV, a cidade de Constantinopla finalmente foi conquistada pelos turco-otomanos, após um longo período de resistência dos bizantinos. Essa conquista marca o fim da Idade Média.
[1] Nika significava vitória.
Oi
Ótima explicação
Foi muito bom