Olá, caro aluno! Na aula de hoje, vamos recapitular e revisar alguns conceitos que vimos na última aula. Vamos continuar falando sobre a adequação linguística, mas agora, daremos ênfase nas questões de ESTILO ou REGISTRO.
Mas antes, vamos relembrar o que são variações linguísticas e porque a língua sofre essas modificações em seu uso!
As variações (variantes ou variedades) linguísticas são as transformações que uma língua sofre naturalmente ao longo de seu uso, tornando-a diferente da norma culta devido a fatores, tais como convenções sociais, momento histórico, contexto ou região em que um indivíduo falante ou grupo social encontram-se.
As variações linguísticas são objetos de estudo da uma área da Linguística chamada SOCIOLINGUÍSTICA, cujo interesse principal é como a divisão da sociedade em grupos de diferentes culturas e costumes faz com que surjam diferentes formas de expressão da língua.
E mais: embora tais formas linguísticas estejam baseadas nas normas estabelecidas pela gramática normativa, é possível que adquiram ou criem suas regras e características próprias.
Assim, podemos dividir as variações linguísticas em quatro grupos:
SOCIAL (DIASTRÁTICA): Essa variação linguística refere-se aos grupos sociais em que o sujeito falante se insere, isto é, das pessoas com quem ele convivem. São as variedades típicas de grandes cidades, já que as pessoas dividem-se em grupos em razão de interesses comuns, tais como profissão, classe social, nível de escolaridade, esporte, tribos urbanas, idade, gênero, sexualidade, religião etc.
Por uma questão de sentimento de pertencimento e de identidade, os grupos desenvolvem características próprias, tais como a vestimenta, estilo musical, inclusive uma linguagem própria. Os surfistas, por exemplo, têm um vocabulário diferente dos skatistas; jornalistas comunicam-se diferentemente de médicos; bem como as crianças, adolescentes e adultos também possuem vocabulário bastante diferente uns dos outros.
É possível identificar as variações sociais por meio de dois fatores:
- Gírias: palavras ou expressões informais, efêmeras (pois estão sempre surgindo novas palavras e desaparecendo outras) e normalmente ligadas ao público jovem.
- Jargão (termo técnico): palavras ou expressões típicas de determinados ambientes profissionais (cada profissão tem termos que são usados e compreendidos apenas dentro do contexto profissional).
REGIONAL (DIATÓPICA): Essa variação linguística sofre bastante a influência do espaço geográfico em que o falante vive. E o Brasil é um país de dimensões continentais, sendo assim, essas variações, em nosso território, são extremamente ricas (tanto em número quanto em peculiaridades linguísticas).
Podemos perceber as variações regionais por meio de dois fatores:
- Sotaque: fenômeno fonético (fonológico) em que pessoas de uma determinada região pronunciam certas palavras ou fonemas de forma diferenciada. Por exemplo, a forma como os paulistas pronunciam o S, ou como o mineiro pronuncia o R, ou ainda como em algumas regiões nordestinas ou sulistas costuma-se pronunciar o E bem aberto no final de determinadas palavras, enquanto que em outras regiões brasileiras pronunciam-se as mesmas palavras com som de I.
- Regionalismo: fenômeno ligado ao léxico (vocabulário) que consiste na existência de palavras ou expressões típicas de determinada região.
Vejamos um exemplo de texto no qual se emprega a variação regional:
“Sapassado taveu na cuzinha tomando uma picumel e cuzinhando um kidicarne com mastumate pra fazê uma macarronada com galinhassada. Quascaí de susto, quando ouvi um barui de dendoforno, pareceno um tidiguerra. A receita mandopô midipipoca dentro da galinha prassá.
U forno isquentô, u mistorô e o fiofó da galinha ispludiu!! Nossinhora! fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovinha, proncoía, oncotava. Óiprocevê quelucura! Grazadeus ninguém simaxucô!”
HISTÓRICA (DIACRÔNICA): Nesta variação, percebem-se palavras que caíram em desuso, devido à substituição por palavras mais atuais. Esse fenômeno chama-se arcaísmo – palavras ou expressões que caíram em desuso no decorrer do tempo. Essas variedades são normalmente encontradas em textos literários, músicas ou documentos antigos. Como a língua está sempre se renovando, é comum que muitas palavras percam o seu uso, dessa forma, as palavras que ficaram no passado tornaram-se arcaicas, usá-las em textos atualmente não seria adequado.
Antigamente
Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua, nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco.
ESTILÍSTICA (DIAFÁSICA): é possível adequar a língua, conforme o estilo exigido pelo texto ou pela situação comunicativa, assim funciona a variação estilística. Uma conversa informal, por exemplo, é uma situação cujo estilo exige uso de linguagem coloquial, que é mais despojada;
A dissertação ou uma reunião de negócios, por sua vez, exigem do redator ou falante um estilo mais formal de linguagem.
Um texto poético, uma declaração de amor já exigirão uma linguagem literária, com uso de figuras de linguagem e outros recursos estilísticos que tornarão a linguagem mais elaborada e artística.
Portanto, caberá ao falante ou redator dominar as diferentes variantes a fim de adequá-las à situação comunicativa (mais ou menos formal) e ao estilo exigido pelo texto. Como foi explicado no último material: a língua e como uma roupa: se nos vestimos de acordo com a ocasião, também usamos a língua de acordo com a situação!
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